Embora nos últimos anos o Steam tenha aberto as portas para que muitos jogos com conteúdo adulto e pornográfico entrassem em seu vasto catálogo, esses dias de maior flexibilidade parecem estar com os dias contados. Uma significativa mudança nas políticas da plataforma, implementada recentemente, tem gerado intensos debates e preocupações entre desenvolvedores e jogadores. A decisão pode impactar diretamente a disponibilidade de certos tipos de jogos, especialmente aqueles com conteúdo considerado “sensível” ou “controverso”.
Mas, afinal, o que motivou essa súbita alteração nas diretrizes e quais serão as consequências para o cenário dos games, a diversidade de títulos na Steam e a liberdade artística?
Recentemente, a Valve, gigante por trás do Steam, atualizou suas regras de forma a se conferir o direito de impedir a distribuição de conteúdos que “violem as regras e padrões estabelecidos pelos processadores de pagamentos do Steam e redes de cartões e bancos relacionadas, ou provedores de acesso à internet”. Essa alteração, embora genérica em sua redação, levanta muitas dúvidas sobre quais diretrizes de conteúdo específicas estão sendo visadas.
Não é por acaso que essa estratégia já foi observada em outras plataformas digitais. O OnlyFans e o Patreon, por exemplo, adotaram medidas semelhantes para remover conteúdos considerados “não seguros para o ambiente de trabalho” ou que conflitavam com as políticas de seus próprios parceiros financeiros. Portanto, essa nova política da plataforma da Valve segue um padrão já conhecido no universo online, onde a pressão de intermediários financeiros pode ditar a curadoria de conteúdo.
Steam has added a new rule disallowing games that violate the rules and standards set forth by payment processors and card networks, or internet network providers. At the same time, many incest themed games were removed from the store.
— SteamDB (@steamdb.info) 16 de julho de 2025
Como resultado direto dessas novas políticas, o Steam já começou a remover alguns títulos de seu catálogo. Jogos com temáticas adultas consideradas controversas, como “Sex Adventures – Incest Family” e “Slave of the Police Officer”, foram os primeiros a ser eliminados, marcando o início das restrições. É importante notar que essa onda de remoções rapidamente provocou uma forte reação na comunidade gamer.
No Reddit, por exemplo, a revolta dos jogadores é palpável, especialmente pela falta de clareza nas novas regras. O usuário Farvnir expressou sua indignação, afirmando: “Uma provedora de pagamento não deveria ter o poder de ditar arbitrariamente como outras companhias administram seus negócios só porque elas têm um monopólio”. Essa declaração ressoa o sentimento de muitos que veem a ação como uma forma de censura em jogos por vias indiretas.
Em resposta à crescente controvérsia, a Valve, em comunicado enviado à Eurogamer, explicou que a medida foi necessária para evitar a “perda de meios de pagamento”. Segundo a empresa, essa perda “impediria os consumidores de serem capazes de comprar outros títulos e conteúdos no Steam”, adotando uma postura que se mostra submissa aos desejos de suas parceiras financeiras. Essa justificativa, no entanto, não apaziguou a comunidade.
Além da discussão sobre conteúdo explicitamente adulto, a decisão da Valve gerou uma nova camada de controvérsia, sobretudo entre desenvolvedores independentes e criadores de conteúdo marginalizado. Em sua postagem no BlueSky, NoahFuel_Gaming alertou para o que chamou de “normalização silenciosa da censura financeira”. Sob esse viés, ele argumenta que a medida pode ter um impacto desproporcional em games que tenham temáticas LGBTQ+, rotulando-os indevidamente como “explícitos” ou “controversos” mesmo quando não são.
Consequentemente, o desenvolvedor detalhou:
“Conteúdo queer é marcado como ‘explícito’ mesmo quando é leve. Um desenvolvedor trans criando uma história pessoal? ‘Muito controverso’. Uma visual novel queer surreal? ‘Sexualizada’. Deplataformização financeira em ação”
NoahFuel_Gaming também enfatizou que outras plataformas já trilharam caminhos parecidos, utilizando “códigos morais próprios” para remover conteúdos “não tradicionais” sem justificativa clara. Para muitos, esta é uma forma de apagamento cultural, onde a liberdade artística é cerceada não por leis ou proibições diretas, mas pela interrupção dos meios de subsistência.
“É assim que acontece o apagamento cultural acontece na era digital: não com um martelo de banimento, mas com um processador de pagamentos negador. Com uma regra vaga. Com silêncio”
continuou Noah. Até o momento, as novas políticas da loja tiveram poucos efeitos massivos, mas a perspectiva é que mais jogos devem ser removidos dela como consequência da decisão nas próximas semanas e meses, o que agravará a questão da diversidade em games na plataforma e o impacto na indústria de jogos como um todo.
Em suma, as novas políticas do Steam representam um ponto de inflexão para a plataforma e para a indústria de jogos. A crescente dependência de processadores de pagamento e a indefinição das regras abrem portas para discussões amplas sobre liberdade de expressão, censura e o papel das empresas de tecnologia na curadoria de conteúdo digital. O futuro da diversidade, da criatividade e da disponibilidade de certos tipos de jogos no Steam parece incerto diante dessas mudanças. A comunidade e os desenvolvedores continuarão atentos aos próximos desenvolvimentos, buscando clareza e defendendo a pluralidade de expressões artísticas.
Qual sua opinião sobre as novas políticas da Valve? Deixe seu comentário e participe da discussão sobre o futuro do conteúdo na plataforma!